top of page

OS SETE DESEJOS

Estava um dia a olhar certo jardim por uma vidraça. O sol produzia um pequeno arco-íris que coloria de alegria o dia. Jatos d’água, alimento e conforto, acariciavam a grama. As cores ondulantes, ilusão criada pela refração da luz, pareciam vivas, contrastando com o nada. No meu pensamento não restava sentimento, apenas desamparo e solidão. Desejei poder chorar, mas sequei em contraste com o jardim. Ele vivia, eu não. De repente, saído não sei de onde, um som...

-Sete desejos!

Procurei em torno assustada. Ninguém. Parecia que a voz vinha do jardim...

-Sete desejos!

Olhei para baixo. Aquele danadinho brilhava e agitava-se ao sol.

-Sete desejos, sete desejos!

Respondi ansiosa:

-Sete desejos? Não consigo pensar em nada, nem desejar nada. Se fosse apenas um!

-Sete desejos, repetia ele nervosamente. Sete! Sete!

Desesperada, irritada e em agonia eu repetia: sete? O que parecia bênção ecoava como maldição. Sete...

Astutamente falei:

-Desejo em primeiro lugar que de sete sobre um par, e do par só sobre um.

-Cumpra-se! Seja feita a sua vontade!

Repentinamente me lembrei que bem distante alguma coisa almejei... Era um pequeno elefante: gordo, desengonçado, pesado. Desejei ardentemente o elefante do passado. Sorri e disse:

-Quero um elefante!

Não obtive resposta. Repeti irritada:

-Um elefante! Tu dissestes sete, tenho apenas um desejo e não respondes!

Percebi desconcertada uma pequena lágrima em seus olhos. Ele olhou para mim tristemente e disse que não poderia mais me atender. Pasmada perguntei:

-Por quê?

Ele não me respondeu condenado em uma eterna tristeza.

Vislumbrei a resposta: quando de sete apenas um restara, o meu pedido se completara, e assim nada sobrara.

Vendo seu desamparo, por não poder me satisfazer, meus olhos piscaram e então chorei...

E das lágrimas que rolaram dois arco-íris se formaram.

Então ouvi quando ele alegre falou:

-Agora de sete, quatorze te dou!






 
 
 

Posts recentes

Ver tudo
A CULPA É DO MÁRCIO VIANNA!

Gosto de contar histórias. Quando, em janeiro de 1992, entrei naquele teatro não podia imaginar o que aconteceria na minha vida. Em 1992...

 
 
 

Comments


©2021 por inconsciente feminino

bottom of page